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Amigo: descoberta da pandemia

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O "amigo" foi uma das coisas interessantes que a pandemia desvelou. Foram poucos os tempos da história da humanidade em que se falou, se escreveu, se reconheceu tanto a importância do amigo, e se constatou o quanto ele é indispensável para nossa integridade, memória, sobrevivência, felicidade, ânimo, e muito mais, como neste tempo de isolamento e afastamento social.

Mas por que o amigo é importante? Porque ele testemunhou o nosso mundo vivido. Ele é o espelho onde podemos nos olhar, nos rever e ressignificar nossa caminhada.

O escritor tcheco Milan Kundera, em seu livro A Identidade, escreve que toda amizade é uma aliança contra a diversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Aqui cabe uma reflexão sobre o amigo antigo e o amigo recente, já que o recente, muitas vezes pode demorar a perceber esta aliança. Amigo novo nem sempre valoriza o que está sendo construído. É uma amizade ainda não testada pela adversidade do tempo. Não se sabe se enfrentará com solidez as tempestades ou se será diluída pelas chuvas de verão. Veremos! Quem sabe o futuro próximo nos mostre.

Por outro lado, o amigo antigo está consolidado, é nosso porto seguro, nos salva das intempéries, divide conosco as coisas concretas e abstratas como: doces, lembranças, gasolina, crise, livro, experiência, filme, culpa, chimarrão, segredo, vida... Um amigo, independente de antigo ou recente, não nos empresta apenas coisas, empresta o ombro, o tempo, o carinho, o calor, o amor, etc. Ele não nos dá só a dica de uma roupa, nem recomenda apenas passeio, viagem, país, Estado, cidade, bairro, ou restaurante, ele recomenda cautela, cuidado, atenção.

Um amigo de verdade não dá o número do transporte, ele dá a carona e nos leva não só para o trabalho ou para a festa, nos leva para o mundo dele, topa conhecer o da gente e conviver como e com quem interagimos.

A pandemia mostrou que o amigo não passa unicamente a informação que cai em concurso, ou necessária ao trabalho, à culinária, para tirar manchas, cuidar resfriado ou fazer curativo. Ele passa junto o aperto, o fracasso, o constrangimento, a dor, o dissabor, o amor e o desamor, a alegria e a tristeza, o ganho e a perda.

Um amigo de verdade não acompanha só ao shopping, vai junto à igreja, ao hospital, anda em silêncio na nossa dor, entra junto no jogo, fica conosco na vitória e na derrota. Ele não só nos dá o braço, mas nos segura pela mão, segura nossa barra, nossa ausência, nossa confissão, nosso tranco, nosso palavrão, nossa grosseria, nossa animação, nossa razão de ser, sentir e viver.

Muitos amigos assim não temos, mas os poucos que a pandemia consolidou nos ensinam a sempre mais a cuidarmos uns dos outros e a completarmos a obra da criação.

Caro leitor, em qual amigo estás pensando?

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